Se por um lado empresários lutam para não fechar as portas, por outro, empreendedores se reinventam ao abrir novos negócios em meio ao isolamento social. Entre informais e formais – dados do Portal do Empreendedor demonstram que 14.074 baianos tornaram-se microempreendedores individuais (MEIs) nos meses de março e abril, um crescimento de 7% em relação ao mesmo período do ano passado. São pessoas que escolheram o caminho da inovação para conseguir uma renda extra durante a pandemia.
Para quem se questiona se pandemia é momento para empreender, Maria Brasil, presidente da Associação de Jovens Empreendedores da Bahia (Aje-BA), afirma que tudo depende do tipo e da base em que esse empreendimento será construído. Nesse momento, alguns modelos de negócio acabam, segundo Brasil, tendo mais propensão de sucesso do que outros.
“Pesquisas já mostram um incremento de 55% nas vendas de supermercados, 16% em farmácia, 135% em delivery. Essas atividades que estão alinhadas às necessidades básicas do consumidor têm mais propensão de sucesso. É importante observar isso antes de abrir um negócio e observar também se existe uma reserva financeira para sustentá-lo pelo menos nesse primeiro momento”, explica Maria.
A presidente da Aje-BA afirma ainda que o empreendedorismo tem sido estimulado nesse momento de pandemia “principalmente pela necessidade”. De acordo com ela, as pessoas que tiveram sua renda suprimida ou reduzida enxergam agora no empreendedorismo uma forma de complementar a renda familiar. “Sabemos que em momento de crise é quando o empreendedorismo mais avança, porque as pessoas tendem a se reinventar”.
Por necessidade
Foi a necessidade que impulsionou Dirlan de Oliveira a abrir um negócio, o Cheirin de Brownie (@cheirindebrownie). O jovem estava desempregado quando as medidas de combate ao novo coronavírus foram decretadas e ele percebeu que “seria ainda mais difícil conseguir uma renda em meio a pandemia”.
“Minha intenção era abrir meu escritório de arquitetura, mas não consegui. Já tinha um cliente, que, por conta dessa crise, acabou desistindo. A pandemia me estimulou, porque eu não tinha como sair de casa para buscar uma renda, mas as contas continuavam”, relata Dirlan.
Agora ele faz brownies em casa, vende pelas redes sociais e faz a entrega. Só no Dia das Mães foram 40 encomendas e a expectativa é que seu faturamento consiga complementar a renda doméstica em 30%. Mas empreender na pandemia não tem sido fácil. O jovem conta que acabou tendo problema com mudanças nos preços e rotinas dos fornecedores.
“Cheguei a ir na loja comprar as embalagens e ela estava fechada, tinha passado a só funcionar por delivery. Mas também sei que essa necessidade de isolamento foi o que alavancou o negócio. As pessoas em casa, sem poder sair, querem pedir uma coisa gostosa para comer. Mas minha intenção é manter o negócio”, explica o jovem.
Já a situação que fez o personal trainer Tiago dos Santos Alves, MEI a 3 anos, a empreender em outra área foi um pouco diferente. Pós graduado em exercício físico aplicado em grupos especiais, o público com o qual ele trabalha é, em sua maior parte, idoso, diabético e hipertenso. Todos do grupo de risco. Com o início da pandemia, as aulas precisaram ser suspensas e “conversando com um amigo surgiu a ideia da venda de castanhas, que está diretamente ligada a hábitos saudáveis”.
Todas as terças ele recebe 22 kg de castanhas frescas para vender em seu novo negócio, a Oilseeds (@oilseeds), e como nem todos os alunos são do grupo de risco, ele adaptou os treinos e tenta traçar um roteiro onde ele faz as entregas e dá as aulas. “Confesso que tem sido bastante desafiador, mas estou gostando de empreender. Para que não precisasse de investimento procurei parcerias, o instagram fiz com a ajuda de amigos e o estoque inicial consegui negociar o prazo, então paguei com a própria venda”, ele conta.
Tiago afirma que pretende dar continuidade ao negócio mesmo depois da pandemia e que tem investido muito na divulgação através das redes sociais, que na situação atual pode ser considerado o ambiente mais importante para divulgação. “No momento que estamos vivendo agora, as redes sociais e mídias online são fundamentais para captar novos clientes e fechar negócio”, explica Fernanda Gretz, gerente de atendimento individual do Sebrae Bahia.
E isso serve principalmente para quem está iniciando agora uma empresa ou atividade durante um isolamento social. Do contrário, questiona Fernanda, “como esse empreendedor vai captar e garantir esses clientes?”. E é exatamente através das redes – e indicações -, que microempreendedora Maiara Lacerda tem alcançado o público até o seu novo negócio dedicado a produtos para cabelos cacheados, a Cachos da Star (@cachosdastar).
Proprietária da loja de roupa feminina Closet da Star (@closetdastar), ela decidiu investir na Cachos quando viu as vendas da loja caírem durante a pandemia. Vendendo toucas e fronhas de cetim feitas especialmente para ajudar na manutenção de cachos, ela explica que não está sendo tão agressiva no marketing como costuma ser por saber que as pessoas estão em uma situação complicada e com pouco dinheiro sobrando.
“Ainda assim as vendas estão indo muito bem. Investimos R$ 200 e quem produz as peças é a minha mãe. Fico responsável pela produção de conteúdo nas redes e pelas entregas, que às vezes também são feitas por meu marido.
Escolhi esse tipo de produto pelo fato de eu mesma ter dificuldade em encontrar as coisas certas e úteis para cuidar do meu cabelo, assim como minhas clientes hoje. Penso que essa empresa é para a vida, então sim, com certeza pretendo continuar com ela após a pandemia”, conta Maiara.
Publicado originalmente no Portal A Tarde