“A todo o momento, notícias ruins chegam na velocidade das redes sociais. São tantas, que é difícil compreender e reagir a tudo. E, em uma vertigem coletiva, parece que a única escolha que temos é nos mantermos de pé, em frente ao abismo. Sem poder dar um passo atrás, nos sentimos reféns, e pode ser que sejamos mesmo”.
A leitura foi feita pela diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, durante conferência no Seminário Preparatório da UNEB para o Fórum Social Mundial (FSM), realizado na última quarta-feira (31), no Campus I (Salvador).
Os aparentes desânimo e pessimismo registrados pela conferencista, reforçados pelos dados referentes à violência mundial apresentados por ela, logo foram substituídos pelo discurso em defesa da mobilização e da luta em prol dos direitos humanos para a construção de outro mundo.
“Eu quero ver a tenacidade guerreira, sem guerras. A vontade incansável que atravessa tempo e espaço, desconhecendo limites e fronteiras. A força dos coletivos que, imaginando outra realidade, uma nova aliança, se movem agora para fazer a mudança já. Sendo, esses mesmos coletivos, a mudança que almejam”, destacou a diretora.
Mobilização e interiorização
O desejo de Jurema é também o manifestado pela UNEB, que engajou gestores, professores, técnicos-administrativos, estudantes e representantes dos movimentos populares para organizar a sua participação na 13ª edição do Fórum Social Mundial (FSM), que acontecerá entre os dias 13 e 18 de março.
“Queremos que a comunidade tenha uma participação efetiva no fórum, não só o organizando, mas trazendo também para a universidade os frutos de todas essas discussões. Isso é fundamental, sobretudo, no momento crítico que o Brasil vive, em que temos perdido os nossos espaços em todas as instâncias”, salientou o reitor da universidade, José Bites.
A importância da dimensão acadêmica do evento foi ressaltada pelo vice-reitor, Marcelo Ávila, que convocou os segmentos da instituição: “É muito importante a participação de todos e de todas. O fórum é um grande evento formativo, que nos dá uma oportunidade importante de trocas entre a academia e os movimentos populares, para uma construção coletiva”.
Membro da comissão organizadora do FSM na UNEB, Rosana Rodrigues explicou que a programação que será sediada pelo território da universidade deve acolher, sobretudo, quatro eixos temáticos da iniciativa: Ancestralidade, Terra e Territorialidade; Educação e Ciência, para Emancipação e Soberania dos Povos; Feminismos e Luta das Mulheres; e Direito à Cidade.
Ainda segundo a organizadora, além das atividades do evento que serão realizadas no Campus I, campi de diversas regiões do estado vão articular a interiorização das ações e dos princípios da iniciativa.
Articulação e luta
Diversos movimentos populares estiveram representados no evento preparatório e tiveram a oportunidade de apresentar as suas programações para o Fórum Social Mundial.
Em articulação com a UNEB, o coordenador-geral do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Marcos Rezende, antecipou que a universidade vai receber, entre os dias 14 e 15 de março, praticantes de religiões de matriz africana de todo o Brasil para um evento no campus.
“Contamos com o engajamento e apoio de todas e todos, sobretudo, da comunidade unebiana, para recepcionar o nosso povo. O FSM vai permitir que uma parcela maior do estado possa ter vivências sobre a importância de pensar um novo modelo de resistência”, destacou Marcos.
Representante da Central Única dos Trabalhores (CUT-BA), Ane Senna apresentou detalhes da proposta do fórum, da programação oficial e sobre as entidades que compõem o Comitê Nacional Facilitador do FSM. De acordo com ela, mais de 1,2 mil atividades foram sugeridas para compor as ações da iniciativa.
Para Lindinalva de Paula, representante da Rede de Mulheres Negras, é inevitável que a manifestação feminina ocorra em todas as atividades propostas pelo evento.
Ela aproveitou a oportunidade para convidar a comunidade acadêmica para atividades de grande mobilização, a exemplo do Tribunal Ético Internacional, no dia 14 deste mês, e da Assembleia Mundial da Mulher, no próximo dia 16.
Representantes dos diretores de Departamento, dos docentes, dos discentes e dos técnicos-administrativos da universidade também participaram da mesa de abertura do evento preparatório.
Resistência e arte
“E eu ainda estou em busca da minha humanidade. Eu estou na luta para não perder a minha sanidade. E os pretos em diáspora aqui nesta cidade. Rebelião é a saída, sem piedade”.
Assim, cantaram as jovens poetisas baianas do Slam das Minas. Manifestações artísticas de indignação e luta também deram o tom do evento e prepararam a comunidade acadêmica para o aprofundamento das questões e das mobilizações durante o Fórum Social Mundial.
A programação do seminário preparatório da UNEB foi encerrada com a apresentação do projeto artístico “Urbis in Motus”, do Balé Teatro Castro Alves (BTCA). O público pôde prestigiar manifestações físicas e audiovisuais, e imergir em discussões sobre temas como o racismo, a LGBTfobia e a misoginia.
A 13ª edição do Fórum Social Mundial será realizada em Salvador entre os dias 13 e 17 de março. A expectativa é que cerca de 150 mil pessoas de todo o mundo participem das atividades do evento, que acontecerão na universidade e em vários outros espaços da capital baiana.
O Fórum Social Mundial (FSM) é um evento que envolve movimentos sociais de várias partes do mundo, a fim de elaborar alternativas para uma transformação social global.
As inscrições individuais e de organizações podem ser feitas até o dia 10 de março no site www.fsm2018.org.ou presencialmente, durante a realização do evento.
Veja mais fotos do evento preparatório em no Flickr.
Vejam também fotos do “Urbis in Motus”
Fotos: Cindi Rios/Ascom
Fonte: Ascom Uneb