Fim de ano sem loucura: dicas para gerenciar seu tempo

Final de ano letivo é sempre a mesma coisa: alunos virando noites para estudar, pedindo pontos e aflitos com a possibilidade de não dar conta de tudo. Mas e quando é o professor que está sobrecarregado, desesperado e não consegue se organizar? Nessa reta final, é normal que a carga de trabalho aumente e, por isso, nem todos conseguem gerir bem o tempo. Às aulas, somam-se correção de avaliações, trabalhos, preenchimento de diários, reunião de pais e outras atividades.

Todas elas precisam ser realizadas, uma vez que seu descumprimento prejudicaria os alunos e o bom andamento de toda a escola. Pensando nisso, NOVA ESCOLA conversou com educadores e reuniu dicas que garantem um bom resultado. Com elas, as 24 horas do dia serão suficientes para que você cumpra todas as suas tarefas.

Professores têm muitas responsabilidades e confiar apenas na memória para lembrar de tudo não é a melhor ideia. O professor de História Daniel Rodrigues da Silva organiza todas as suas tarefas em um quadro, no qual tudo está dividido por dias e horas. Ele tem 28 anos de carreira, cumpre uma carga horário de 40 horas semanais em três instituições de Poços de Caldas (MG) – uma escola pública, uma particular e uma faculdade – e se considera hiperorganizado. “No início da carreira, eu me ‘atolava’ com menos aulas do que tenho hoje. Depois de cinco anos lecionando, vi que não ia dar conta e estabeleci esse quadro. Sofri e aprendi”.

O quadro é produzido antes do início da semana – mas pode ser alterado, sempre que necessário. Ele tem o original em casa, mas mantém cópias no armário de uma das escolas em que trabalha e carrega outra no celular. Existem diversas formas de organizar um calendário ou lista de tarefas. Há quem prefira as agendas tradicionais, mas se considerarmos que agora é difícil desgrudar do celular, a tecnologia pode ser uma ótima aliada.

Outra dica é planejar todo o último bimestre – ou seja, novembro e dezembro – ainda no terceiro bimestre, portanto, entre maio e junho. Segundo Daniel, com tudo bem pensado e organizado, dá tempo inclusive de manter-se atualizado profissionalmente. “É importante para a carreira destinar um tempo para estudar. Agora mesmo, estou terminando um livro relacionado ao conteúdo que trabalhei com os alunos”.

Propor atividades criativas ou aprofundadas é ótimo, desde que haja tempo para executá-las bem. No momento crucial do fechamento do semestre, é importante optar por aquilo que não vai exigir ainda mais tempo dos alunos e de você mesmo. “Propor muitas atividades é cansativo e improdutivo em qualquer disciplina. Exigir muita leitura, redações extensas e exercícios com respostas longas demais gera um imenso desgaste”, explica o professor Daniel.
Marcar avaliações finais que exijam muitos conteúdos também não é uma boa opção. O ideal é que as matérias tenham sido divididas em várias avaliações ao longo do bimestre. Aproveite os últimos dias de aula para fazer uma revisão do que foi trabalhado no ano, investir em atividades mais curtas, apresentação de trabalhos e momentos de autoavaliação entre toda a turma, individuais e de sua própria atuação.

Apesar de ser compreensível querer facilitar a própria vida, algumas tarefas simplesmente não podem deixar de serem feitas. Por isso, é importante se organizar bem para que a economia de tempo no presente não gere problemas futuros.

“Nesse momento, o professor deve priorizar a avaliação de aprendizagem das crianças, considerando o caminho percorrido desde o início do ano. Precisa também pensar qual foi o papel do último bimestre nessa evolução. Para que isso seja bem feito, o diário de classe não pode deixar de ser preenchido de forma correta”, esclarece Cristina Alice Ribeiro, formadora do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa e coordenadora de uma creche em Seabra (BA).
Tentar economizar tempo nas correções também é complicado. Não é possível avaliar trabalhos dissertativos muito rapidamente. É necessário sentar e lê-los com atenção. Trabalhos em grupo facilitam, mas não se pode abrir mão das tarefas individuais.

Talvez não dê para sair dessa sozinho

Nem todas as responsabilidades devem recair unicamente sobre a professora ou professor. Toda a equipe precisa se articular para que a escola funcione bem. “Nas reuniões formativas durante todo o ano letivo, os coordenadores precisam conversar com os professores e estabelecer prazos. Isso tem que ser uma pauta. Dessa forma, ninguém receberá uma cobrança de última hora”, diz a coordenadora Cristina.

Além disso, o professor precisa ter em mente que pode e deve pedir ajuda da gestão sempre que necessário. E, caso perceba que as tarefas se acumularam muito e que não será possível terminá-las no prazo, informar a coordenação o quanto antes.

Deixe para depois o que você não pode fazer agora

Algumas tarefas são grandes ou importantes demais para serem realizadas em poucos dias – e quando você e a equipe estão muito cansados. Por isso, faça uma lista de prioridades e saiba selecionar o que pode ficar para o ano que vem.

“Eu organizo meu trabalho todo em uma agenda, e nela pontuo o que dei e o que não dei conta de fazer. Por diversos motivos, algumas coisas passam o ano todo sem serem feitas. A reelaboração do Projeto-Político-Pedagógico e a revisão do rendimento escolar, por exemplo, retomarei no início do ano que vem”, conta Cristina.

Sobre o planejamento do próximo ano letivo, não é preciso ter muita pressa. Selecione o que já deu certo e pode ser repetido (as avaliações e opiniões dos alunos ajudam), mas deixe para detalhar tudo só no início do ano.

Sua vida pessoal importa

Toda a pressão, por parte da coordenação, alunos e seus responsáveis somada a outros fatores do dia a dia da profissão podem causar problemas sérios de saúde física e emocional. Sendo assim, é importante cumprir com as obrigações docentes, mas sem deixar de cuidar de si mesmo.

A dica é aproveitar ao máximo as janelas de aulas e períodos de trabalho fora de sala para corrigir provas, trabalhos e cumprir tarefas mais burocráticas. A professora Conceição Manfredi, que atua na Educação Infantil e Fundamental 1 das redes municipal e estadual de São Paulo e tem 29 anos de experiência, conta que a desorganização nos horários de trabalho já prejudicou seu bem-estar e relação com a família. “Antes, eu sentava no computador sábado de manhã e ficava lá por horas. Agora, sempre imponho um limite e passo no máximo 45 minutos por dia planejando atividades em casa. Aprendi a valorizar muito os momentos de lazer, principalmente no fim de semana, para começar a semana com gás e força total. Se eu não estiver bem comigo mesma, não conseguirei ajudar ninguém”, diz.

Publicado originalmente no site Nova Escola