AOS PROFESSORES QUE LUTARAM PELA EDUCAÇÃO DA BAHIA

Há momentos na vida em que sentimos uma necessidade irrefreável de olhar em volta e avaliar os ganhos e as perdas. Sinto a necessidade de agradecer a tantas contribuições de familiares e de pessoas às quais não tivemos como agradecer pessoalmente e tantas outras que pareceram ter passado despercebidas, em meio a situações muitas vezes turbulentas, mas que deixaram marcas importantes na minha vida. A política em qualquer das frentes é selvagem, voraz e desassossegadora, mas eu sei que sou o resultado de muitas convivências e influências. Foram centenas de pessoas que me plasmaram e educaram na militância teatral, sindical e partidária e estão comigo para sempre.

Sinto-me compelida a recuperar uma parte dessas memórias, uma fração mínima do que vivi e do que vivenciaram tantos companheiros, nas grandes batalhas em defesa dos professores e da educação.

As memórias das lutas dos professores em torno da APLB, entre 1978 e 1989, foram uma tarefa que me impus para que não perdêssemos as ricas experiências e percursos dos professores baianos na reconstrução da sua entidade de classe. Eu mesma gostaria de entender o que fez aquela entidade sair de um quadro de 1.800 sócios em 1985, quando nós assumimos, para 48 mil, quando deixei a Presidência da entidade, em 1990.

Busquei reviver um pouco da etapa do crescimento associativo, enquanto forma de resistência e de ação dos trabalhadores em educação da Bahia, relacionando-a com o contexto histórico e político daquele período. Procurei rememorar as nossas lutas mais importantes e as características históricas daquele período. Tentei reconstruir só de memória as condições objetivas e subjetivas do surgimento do movimento dos professores primários, o fortalecimento da APLB, com a ampliação da associação e transformação em sindicato.

Para o surgimento daquela entidade pujante não bastavam as condições objetivas sob as quais se formou o movimento de professores: a expansão do ensino, com a massificação; a falta de condições de trabalho; o ingresso de professores das classes populares; a política de arrocho e achatamento salarial do magistério baiano; os atrasos no pagamento dos salários e a perda do prestígio social do professor, que o empurrava para o mundo trabalho, não como um trabalhador intelectual, mas um trabalhador comum, “um trabalhador da educação”. O mais determinante para aquele crescimento extraordinário da APLB foram os professores militantes, as suas ações corajosas e criativas, que parecem se justificar em Anísio Teixeira, que afirmou na Assembleia Legislativa da Bahia – ALBA-, em 1947: “Não venho até aqui sem certo constrangimento falar sobre educação, porque sobre isto quase tudo já se discutiu, mas  nunca, num setor, tão pouco se fez.  Por isso, os educadores foram acometidos de um pudor pela palavra e um desespero mudo pela ação.”(grifo nosso).

Os partidos tradicionais enganavam-se em taxar os professores de corporativistas. Diferentemente de certos exércitos mercenários, que são recrutados por aí, os mais destacados militantes dos professores eram espartanos, comprometidos, muitos deles apaixonados pelo magistério e pela educação, como veremos quando começarmos a relembrar as suas histórias, num desfile de justas homenagens, neste mês em que se comemora o Dia do Professor, inspirada na Sessão Solene realizada  na Assembleia Legislativa da Bahia, em 1999, intitulada  Obrigado, Professor; Obrigada, Professora.

Desta vez, iniciei homenagens às lideranças do movimento. Ao homenagear a professora Marinalva Nunes, ouvi dela o agradecimento e a generosa e irrecusável proposta de parceria, para publicar homenagens no site da Associação Classista do Estado da Bahia – ACEB -, inspirando-se naquela iniciativa.  Estou muito feliz por contar com essa renovada parceria,  com essa indomável Professora Marinalva Nunes, filha de Corujinha e da Dona Ziza, mãe de Anne Cristina e sogra do  ilustre futebolista Marcelo Ramos, para marcarmos mais um gol de placa.


Publicado originalmente no site: https://planaltoempauta.com.br/aos-professores-que-lutaram-pela-educacao-da-bahia/