Maria José Rocha Lima
Eu e a professora Marinalva Nunes pensamos em homenagear os professores que construíram a APLB de base`, a qual começou com o Movimento dos Professores Primários, tendo um núcleo importante dos professores do município de Salvador, pois eu, Eliene Souza Melo, Valdira, Terezinha Umbelino e Eliúdes Fônseca éramos quase todas professoras municipais. A gente trabalhava pesado na APLB, sem férias, sem feriados, sem fins de semana, sem o baba do sábado, patrocinado pela diretoria da época, e na maior alegria.
A entidade cresceu muito, a representatividade foi ficando maior, até do que a de alguns partidos. Os políticos profissionais cresceram os olhos e promoveram as intrigas e as divisões artificiais, para reinar. Os militantes, sob o controle destes, adotaram uma gestão burocrática, como se fosse mandamento político, cultural e moral. Assim, mataram a “crítica e a autocrítica”, muito semelhante à descrição do cientista Milton Santos sobre o pensamento totalitário na globalização.
Fazíamos reuniões aos sábados em um espaço apertado na Avenida Carlos Gomes, onde funcionava a Associação dos Professores Licenciados da Bahia – APLB.
Hoje, vejo que tudo aquilo foi possível porque tínhamos uma rica e diversificada experiência. Eu e Marinalva vínhamos do movimento estudantil. Integrei a Comissão de Cultura do Diretório Central dos Estudantes – DCE -, além de ter participado do Grupo de Teatro Popular Amador Amadeu. Essas experiências no movimento estudantil eram como escolas de fazer política, nos ensinavam, um pouco, a conviver socialmente e sobre a forma de alcançar as pessoas.
As professoras Eliene Souza Melo, Valdira, Terezinha Umbelino e Eliúdes Fonsêca vinham do movimento de igreja, e algumas delas do Movimento de Bairro – Tribuna Operária – TO, que tinha origem no Movimento pela Emancipação do Proletariado – MEP, no qual eu tive uma breve participação. O PC do B, ainda clandestino, buscando se expandir, colocou os professores José Fernando e Percival Alves, os militantes do movimento universitário Luciano Paganucci e Ana Angélica; Zalvira e Arigó, oriundos da Ação Popular ou do próprio P C do B; Carmem Lemos, professora de Biologia do Colégio Central; Ana Lúcia, professora de Biologia e casada com o economista Nelson Oliveira, do Instituto dos Economistas da Bahia – IEBa -, todos muito contribuíram nos estudos econômicos.
Anos depois, tivemos Ana Maria, casada com José Crisóstomo de Souza, que era do CEAS e atualmente é professor de Filosofia na Universidade Federal da Bahia – UFBa. Então, nós sabíamos como andar naquela corda bamba! Essas experiências, juntas, facilitaram muito a nossa vida associativa. A esse grupo se associaram antigos e novos militantes na APLB: Raimundo Duarte, Iná Monte Santo, Joel Francisco, João Leite, Carlos Moreira, este era um médico do PCB, também clandestino. Participaram ainda de algumas reuniões José Raimundo, atualmente deputado; Antônio Câmara e “Tranquilo”, do qual não me lembro o nome, estes eram da Organização Socialista Internacionalista – OSI -, trotskista.
Mas, os fatores determinantes para aquele crescimento geométrico dos associados, para tanto progresso na organização dos professores primários, foram a nossa perseverança, a assiduidade às reuniões dos sábados, as visitas às escolas da capital e às cidades do interior baiano, organização e método de trabalho, a exemplo dos estudos sobre a evolução salarial dos professores municipais e dos professores estaduais, destes últimos Marinalva virou uma expert; divulgávamos os resultados das perdas salariais na imprensa, nos quais me especializei, ficando televisiva; e fazíamos uma intensa distribuição de boletins didáticos, nas escolas e nas filas dos bancos onde se davam os pagamentos dos professores.
Na década de 80, os professores da Rede Municipal de Salvador obtiveram conquistas altamente relevantes, fomos os primeiros no Brasil a conquistar piso salarial de três salários mínimos; estatuto que previa gratificação de pó de giz; pagamento de gratificação para aqueles que trabalhavam em áreas inóspitas e a reserva de 30% da carga horária para estudo e planejamento, que serviram de modelo para o Brasil.
O trabalho em equipe foi uma marca muito importante, porque nos aproximava muito. E o Movimento de Professores Primários deu origem ao Grupo de Fortalecimento da APLB, sem apegos, sem espírito de divisão, sem partidarismos e sem exclusivismos. E isso foi uma coisa que funcionou durante muito tempo na APLB.
O grupo de fortalecimento da entidade dos professores se tornou a espinha dorsal da APLB. E tivemos, como o nosso Tancredo Neves, Braulino Valeriano, um homem cordial, religioso, que sempre afirmava que o partido dele era o partido dos professores, desse modo acolheu os professores primários, alterando os estatutos da entidade, sendo o nosso candidato da transição democrática, para a abertura da APLB (que era entidade somente de professores licenciados), para a APLB de todos os professores, especialmente para representar a sua maioria, que eram os professores primários.
Publicado originalmente no site: https://planaltoempauta.com.br/a-aplb-de-base-sem-os-babas-da-vanguarda/