Morreu em Belo Horizonte,na madrugada do último domingo (1) aos 90 anos, a professora Magda Becker Soares, um dos grandes nomes do campo da alfabetização e letramento no Brasil.
A educadora de Belo Horizonte foi uma das idealizadoras da Faculdade de Educação e do Centro de Estudos sobre Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da Universidade Federal de Minas Gerais, este último criado por ela em 1990.
Doutora em Educação e graduada em Letras, Magda Soares assina uma longa lista de livros. São 12 publicações, especialmente livros didáticos de Língua Portuguesa, muito usados nos anos 1970 a 1990. Em 2017, venceu o Prêmio Jabuti na categoria educação e pedagogia pela autoria de “Alfabetização: a questão dos métodos”.
Em Lagoa Santa, Magda encontrou um terreno fértil para fazer prosperar a educação. Na cidade da Região Metropolitana que frequentava desde que nasceu, atuou como consultora da rede municipal de educação e coordenou projetos importantes, como o Núcleo de Alfabetização e Letramento. Ainda, se dedicou a multiplicar as bibliotecas, e criou uma em cada escola. Os trabalhos deram resultado ao fazer aumentar significativamente o desempenho do município no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Dona de uma carreira regida pela busca da democratização do conhecimento, Magda sempre foi conhecida pela coragem de assumir posições de vanguarda. Considerava-se feminista e marcou a luta contra a ditadura. Em 1970, difundia como a escola era desigual no tratamento com os alunos. Não por acaso, esse foi o tema do livro que escreveu na década de 1980 e que continua a ser procurado, “Linguagem e escola: uma perspectiva social”.
A professora era legatária do pensamento de Paulo Freire, de quem foi amiga. Em uma entrevista à revista Pesquisa Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, compartilhou seguir os mesmos pressupostos e ter a mesma utopia que Freire: um Brasil de alfabetização criativa e crítica, que capacita o aluno a ser agente da aprendizagem. “A grande contribuição que Freire deu foi a visão política da alfabetização e da luta contra o analfabetismo”, afirmou.
Vista como quem acolhe e inspira pelos colegas e familiares, Magda era capaz de passar afeto até mesmo na forma de se expressar em livros e palestras. Mesmo aposentada da UFMG desde 2000, nunca deixou de atuar e continuava contribuindo para melhorar as relações e o desempenho de alunos e professores em sala de aula. Até bem pouco tempo, trabalhava em novo livro, sobre a utilização da literatura no ensino da leitura e da escrita. Sua participação no campo da alfabetização infantil brasileira entra para a história e a imortaliza.