Ameaça, agressão, violência, pânico. Essas palavras traduzem a realidade vivenciada por muitas mulheres vítimas de atos criminosos cometidos por homens que agem deliberadamente contra a lei motivados pela misoginia, ou seja, o ódio ou aversão ao sexo feminino. Esta é a principal hipótese para a agressão sofrida na última sexta-feira (8) pela coordenadora de empreendedorismo e ação social da Associação Classista de Educação e Esporte da Bahia (ACEB), Anne Cristina Nogueira (44), ameaçada e injuriada pelo agente público identificado como Giliarde Silva Santos nas dependências da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur). Diferente do que muitas mulheres fazem em situação semelhante, a queixa foi prestada o mais rapidamente possível. Durante o depoimento da vítima na 16ª Delegacia Territorial (Pituba), ela solicitou que a polícia inicie a investigação sobre o caso pelas imagens da câmera que gravou toda a ação do infrator. Até o momento, o órgão municipal não disponibilizou a prova às autoridades.Funcionários da Sedur também testemunharam quando, por motivo fútil, Giliarde agrediu Anne Cristina com palavras de baixo calão, aos gritos. “Ele só não me bateu devido à interferência de terceiros. Se não fosse pelas pessoas presentes no local que se dispuseram a me proteger, além da injúria cometida contra minha dignidade e das ameaças, possivelmente eu teria sido violentada fisicamente. Ou o agressor não sabia que tudo estava sendo filmado ou não se importou com as consequências de seus atos repulsivos”, relatou a vítima, ainda muito abalada. Não é a primeira vez que o infrator deixa rastros públicos que revelam seu mau comportamento. Em janeiro de 2018, uma nota de esclarecimento emitida pelo Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (SINSPEB) denunciou que um ano após ter sido nomeado coordenador de segurança de um presídio na cidade de Vitória da Conquista, Giliarde Silva Santos nunca tinha estado presencialmente na unidade. Atual presidente do Grupo Gay da Liberdade e membro do Conselho Municipal para Promoção e Defesa dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, “este agente público age contra as bandeiras das minorias que ele diz defender ao praticar atos violentos contra uma mulher”, declarou Anne Cristina. Como usava a camisa do vereador e candidato a deputado estadual Sandro Bahiense e estava acompanhado pelo filho deste no momento da agressão, o ato de Giliarde prejudica também a imagem deste e de outros homens públicos ligados ao agente.A diretoria da ACEB lamentou o fato de não ter havido até o momento nenhuma retratação de órgãos ou autoridades contratantes do agressor. Além disso, a associação decidiu tornar pública a denúncia por entender que a violência, de qualquer natureza, não pode ser silenciada. “O combate à violência contra a mulher sempre foi uma luta da nossa instituição e nunca imaginamos que um dia uma de nossas combatentes mais ativas seria vítima desse absurdo. Não nos calaremos diante de atos misóginos e covardes cometidos contra a mulher por motivo de ódio, menosprezo ou discriminação exclusivamente face à condição feminina”, declarou a presidente da entidade, Marinalva Nunes.Segundo a Rede de Observatórios da Segurança, a Bahia registra um caso de violência contra a mulher a cada dois dias. A verdade, porém, é que ainda há muitas mulheres que sofrem este tipo de abuso, mas não denunciam seus agressores, ou seja, os números reais da violência contra a mulher são muito maiores do que aqueles que são registrados. “Nenhuma mulher gosta de ser violentada física, verbal ou emocionalmente. No entanto, muitas vezes, o medo das consequências é tão grande que o silêncio se torna o único meio de sobrevivência. Eu não irei me calar até que a justiça seja feita”, declarou Anne Cristina Nogueira, que tem recebido o apoio de diversas entidades e profissionais que combatem a violência sofrida por mulheres.
Assessoria de Comunicação da ACEB: Carla Santana(71) 99926-6898