Durante os cruzeiros científicos para coleta de dados no âmbito do Projeto Baleias Soteropolitanas (PBS), a equipe de pesquisa do Instituto Redemarbrasil e da Associação Classista de Educação e Esporte da Bahia (ACEB) tem observado uma grande quantidade de resíduos sólidos à deriva no mar.
Sacolas de plástico, embalagens de produtos, sandálias de borracha, preservativo e até um carrinho de brinquedo de tamanho considerável foram encontrados pelos pesquisadores. Uma enorme barreira composta de resíduos sólidos formada pela corrente marinha chamou especialmente a atenção dos navegantes na última semana, principalmente por sua localização, na mesma área onde baleias Jubarte (Megaptera novaeangliae) foram avistadas. “Os registros fotográficos da baleia e da fila de resíduos foram feitos com segundos de diferença, a poucos metros de distância um do outro”, destacou o presidente do Redemarbrasil, William Freitas.
Pesquisas revelam a presença de resíduos sólidos no trato intestinal de várias espécies de cetáceos, a exemplo das jubartes. “Se a baleia decide se alimentar nessa área, certamente acaba ingerindo uma boa quantidade de lixo junto com pequenos peixes, plânctons e outros alimentos, o que acaba causando um impacto direto na saúde desse animal, colocando sua própria vida em risco”, frisou o biólogo e coordenador do PBS, Victor Bandeira.
De acordo com a coordenadora de empreendedorismo, ação social e meio ambiente da ACEB, Anne Cristina Nogueira, que recentemente acompanhou de perto a poluição marítima próximo à costa de Salvador, os oceanos acabam sendo o destino final de grande parte dos resíduos gerados em terra e as consequências dessas atividades afetam todo o ecossistema. Por isso, “precisamos repensar nossas atividades, nosso consumo e o descarte de materiais nocivos à nossa saúde e à saúde do meio ambiente. É urgente a criação e implementação de políticas públicas no combate à poluição, seja ela de natureza orgânica, química e até mesmo sonora”, pontuou a acebiana.Cidadania oceânica – Um dos grandes diferenciais do Projeto Baleias Soteropolitanas é fomentar a criação de uma cidadania oceânica tanto na população de Salvador quanto nos turistas que visitam a capital baiana.
“Por isso, o Redemarbrasil, a ACEB e a Faculdade Unijorge deram as mãos, para juntos fomentar não apenas a preservação das baleias jubartes e o turismo de observação embarcado (TOBE), mas sobretudo a educação ambiental. Queremos preparar futuros biólogos, oceanógrafos e outros profissionais para darem continuidade a este trabalho de conscientização permanente da sociedade quanto ao papel de cada um para a sustentabilidade dos mares e oceanos”, declarou Anne Cristina. O monitoramento das baleias jubartes realizado pelo PBS também tem o intuito de prevenir acidentes envolvendo os animais. Até o fim da temporada, cerca de 20 mil baleias devem passar pelo litoral brasileiro. Além de atrair turistas e encantar os soteropolitanos, o TOBE pode gerar renda para os pescadores das colônias de pescas, que conhecem como ninguém o deslocamento das baleias na cidade. “O ecoturismo e o turismo de base comunitária que defendemos movimenta a cadeia econômica, impulsiona as microeconomias de Salvador e preserva a natureza. Tudo isso junto e misturado”, declarou William Freitas.
O presidente do Redemarbrasil destacou, ainda, que pretende “consolidar Salvador como a capital nacional das baleias”.Espécie-chave – A jubarte é uma espécie-chave, que quando retirada de um ecossistema, pode causar um desequilíbrio ecológico, ocasionando o desaparecimento de outras espécies. Como estão no topo da cadeia alimentar e se alimentam de uma grande variedade de outros animais, este tipo de baleia controla diversas populações e evita que a biodiversidade seja afetada. Suas fezes são ricas em nutrientes, como o Ferro e o Nitrogênio, necessários para a sobrevivência do plâncton.
Este, por sua vez, além de produzir oxigênio através da fotossíntese, é responsável por capturar cerca de 40% de todo gás carbônico (CO²) lançado na atmosfera. Estudos apontam que as baleias também acumulam este gás e por isso ajudam a controlar o aquecimento global.Além do Projeto Baleias Soteropolitanas (PBS), o Redemar Brasil realiza o Festival das Baleias e os projetos “O mar não está para plástico” e “Mantas do Brasil”. O Instituto está alicerçado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relativos à proteção ambiental até 2030 e na valorização da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Década do Oceano (2021-2030).