Desde que as baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) finalmente chegaram ao litoral de Salvador para se reproduzir e amamentar seus filhotes, o trabalho da equipe do Projeto Baleias Soteropolitanas (PBS) triplicou. Nos últimos dias 28 e 29, embarcações saíram da capital em direção aos pontos de avistagem para mapear as regiões e coletar informações estratégicas para o desenvolvimento de ações de preservação da espécie. O monitoramento desses grandes mamíferos aquáticos realizado pelo PBS tem o intuito de prevenir acidentes envolvendo os animais, além de consolidar o turismo de observação embarcado. Até o fim da temporada, cerca de 25 mil baleias devem passar pelo litoral da cidade. O projeto é realizado pelo Instituto Redemar Brasil, com apoio da Associação Classista de Educação e Esporte da Bahia (ACEB).
Após uma hora de barco mar adentro, saindo da capital, já é possível observar as primeiras baleias. Além do passeio de avistagem, o cruzeiro é uma excelente oportunidade para conhecer Salvador na perspectiva do mar para a terra e entender a relação das jubartes com a cidade que antes as caçava, mas agora as protege e abriga. “Nosso projeto tem um viés educativo, relacionado à defesa das baleias como um patrimônio de todos os soteropolitanos e à formação de uma cidadania oceânica. A maior missão do PBS é fazer com que, de forma segura e ecologicamente correta, o turismo de observação de baleias embarcado seja consolidado na capital baiana”, destacou o presidente do Redemar Brasil, William Freitas.
Segundo o coordenador do PBS, o biólogo Victor Bandeira, a temporada de baleias 2021 reunirá muitos animais e grandes espetáculos. Soteropolitanos e turistas já estão tendo o privilégio de acompanhar verdadeiros shows de acrobacias no habitat natural das baleias. Além de ‘acrobatas’, as baleias jubartes são ‘cantoras’ que possuem um longo repertório musical. Os sons que emitem costumam encantar o público. “Elas fazem jus à cidade da música, que também é a capital da Amazônia Azul e agora se prepara para ser a capital das baleias jubartes no Brasil”, declarou. Além de atrair turistas e encantar os soteropolitanos, o turismo de observação embarcado (TOBE) gera renda para os pescadores das colônias de pescas, que conhecem como ninguém o deslocamento das baleias na cidade. “O ecoturismo e o turismo de base comunitária que defendemos movimenta a cadeia econômica e impulsiona as microeconomias de Salvador, além de encantar os visitantes”, completou.
Prevenção de acidentes – O PBS considera o uso intenso da costa de Salvador para atividades portuárias, pesqueiras e turísticas um risco para as jubartes. “Precisamos ter cuidado com o trânsito dos ferryboats, lanchas particulares ou que fazem o percurso Salvador x Mar Grande, catamarãs que fazem o translado para Morro de São Paulo, canoas havaianas, atividades de pesca e tudo o mais que possa se colocar no caminho das baleias. Quem avistar os borrifos de água de uma baleia ou uma coloração mais escura na água deve diminuir a velocidade da embarcação, desligar os motores e esperar que ela se afaste. Os pescadores precisam redobrar a atenção ao lançarem suas redes ao mar”, alertou o presidente do Redemar, William Freitas.
Além de preservar a espécie, outro objetivo do projeto é consolidar Salvador como a capital nacional das baleias. “Devemos cuidar bem das jubartes por diversas razões. O TOBE é uma delas”, destacou o idealizador do PBS. A jubarte é uma espécie-chave que, quando retirada de um ecossistema, causa a morte de diversas outras espécies. Como predadora de topo de cadeia que se alimenta de uma grande variedade de outros animais, este tipo de baleia controla diversas populações e evita que a biodiversidade seja afetada. Suas fezes são ricas em nutrientes, como o Ferro e o Nitrogênio, necessários para a sobrevivência do plâncton. Este, por sua vez, além de produzir oxigênio através da fotossíntese, é responsável por capturar cerca de 40% de todo gás carbônico (CO²) lançado na atmosfera. Estudos apontam que as baleias também acumulam este gás e por isso ajudam a controlar o aquecimento global.
Além do Projeto Baleias Soteropolitanas (PBS), o Redemar Brasil realiza o Festival das Baleias e os projetos “O mar não está para plástico” e “Mantas do Brasil”. O Instituto está alicerçado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relativos à proteção ambiental até 2030 e na valorização da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Década do Oceano (2021-2030). “Preservar as baleias é uma das nossas prioridades, mas não podemos fazer isso sozinhos. Através da educação oceânica, pretendemos difundir este propósito por toda a sociedade”, concluiu William Freitas.