Salve Edgar Morin pelo aniversário de 100 anos!

Maria José Rocha Lima 


A celebração contou com uma centena de convidados. Macron fez um belo e conciso discurso para parabenizar “aquele que entrou na Resistência contra o nazismo, com apenas 19 anos”, e enalteceu os seus engajamentos em favor da ‘Terra Pátria.’ O papa Francisco, em mensagem apresentada à Unesco, afirmou que “Morin destaca-se não apenas como uma testemunha privilegiada de profundas e rápidas mudanças sociais, mas também como um analista atento que, com discernimento, suscitou esperanças e alertou para os possíveis riscos para a humanidade”, informou o portal oficial do Vaticano. O pontífice ressaltou a dedicação de Morin em prol de uma “política de civilização”, da cooperação entre os povos, da construção de uma sociedade mais justa e humana e da renovação da democracia.  Francisco também destacou o oferecimento de Morin – durante encontro dos dois em junho de 2019 – para participar do “Pacto Educativo Global”, iniciativa lançada pelo papa no ano passado e interpretada por muitos como um incentivo para o desenvolvimento de uma grande pedagogia para o novo cidadão planetário. 


Edgar Morin nasceu em Paris, em 8 de julho de 1921. É pesquisador emérito do Centre National de la Recherche Scientifique, mais conhecido pela sigla CNRS (em português,Centro Nacional da Pesquisa Científica), é o maior órgão público de pesquisa científica da França e uma das mais importantes instituições de pesquisa do mundo. Formado em História, Geografia e Direito, migrou para a Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Participou da Resistência ao nazismo, na França ocupada, durante a Segunda Guerra Mundial. É autor dezenas de livros, tornou-se um dos pensadores mais importantes do Século XX. O Método é uma coletânea na qual ele aborda A natureza da natureza, 1977;  A vida da vida, 1980; O conhecimento do conhecimento, 1986; As ideias, 1991; A humanidade da humanidade, 2001; Ética, 2004. Esta coletânea pode ser considerada uma quase completa epistemologia do pensamento complexo de Morin.  Uma das suas contribuições para a área da educação é a obra Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 


Para ele, o século XXI deverá abandonar a visão unilateral que define o ser humano, adotando o “pensamento complexo”, que procura compreender os fenômenos da natureza (incluindo a humana). Para Morin, o ser humano é complexo, bipolarizado, com características antagônicas. É, a um só tempo, sapiens e demens (sábio e louco).
O filosófo alerta que “quando há hegemonia de ilusões, excesso desencadeado, então o Homo demens submete o Homo sapiens e subordina a inteligência racional a serviço de seus monstros”. 


Conheci Edgar Morin em 1992, em Porto Alegre, durante o Seminário Internacional sobre Aprendizagem, promovido pelo GEEMPA, com mais de 7 mil participantes. A sua palestra causou forte impacto sobre mim, e sobre todos nós. As suas ideias nos faziam repensar, reconstruir e construir uma teoria e prática suscetíveis de críticas, de revisão, de melhoria da educação, comentou Barbara Freitag, que, como eu, era palestrante no seminário. Os pronunciamentos desse seminário foram publicados pela Editora Vozes- Construtivismo Pós – Piagetiano – Um novo paradigma sobre apredizagem, em 1993.   


No seu livro Rumo ao Abismo? – Ensaio sobre o Destino da Humanidade, Edgar Morin(2010) denuncia o agravamento da crise planetária e clama por um pensamento político que promova a civilização e evite a barbárie. E surpreendentemente, nos seus  100 anos, desafiou a humanidade a criar uma vacina contra a raiva.   
 

Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista e dirigente da ABEPP. Membro da Organização Internacional Clube Soroptimista Internacional Brasilia Sudoeste. 

Publicado originalmente no site: Planalto em Pauta