Maria José Rocha Lima
O Colégio Raphael Serravalle, em Salvador, referência em educação na Bahia, foi uma das primeiras unidades da rede estadual de ensino a realizar eleições diretas, tendo sido eleito o professor Ramilton de Oliveira.
Ele vinha liderando, durante mais de 20 anos, a comunidade escolar do Raphael Serravalle, tendo sido inicialmente vice –diretor do turno noturno, diretor sob as antigas regras de nomeação, mas quando houve a implantação das eleições diretas foi eleito, pelas qualidades de gestor especializado, responsável, presente, competente, inovador e criativo.
Assim, manteve por anos a fio o Colégio Serravalle na liderança do ranking dos melhores colégios públicos da Bahia. Como bom gestor, conquistou o apoio dos colegas professores, uniu a equipe e, juntos, realizaram uma verdadeira revolução na gestão da escola pública baiana.
Além da reforma física e democratização da gestão, sendo um dos primeiros a implantar o Colegiado Escolar, incentivou a formação da associação de pais e o grêmio estudantil, garantindo transparência nas ações pedagógicas, administrativas e financeiras.
Toda a equipe tomou como desafio fazer uma escola pública diferente: com bons resultados na aprendizagem e oferta de oportunidades aos alunos. Inovaram, realizando parcerias – com a Casa da França, o ”Projeto Je Parle Français”, e, com o ACBEU, projeto “Access do ACBEU”, oportunizando viagens dos alunos da escola à França por três anos consecutivos, para intercâmbio de quinze dias. E os estudantes do “Access do ACBEU” falam inglês fluentemente graças às aulas gratuitas, durante dois anos, tendo logrado a seleção de um jovem embaixador, que passou 20 dias nos Estados Unidos. Realizaram projetos com trabalhos de campo, levando os alunos ao Recôncavo Baiano, à Chapada Diamantina, a museus, a universidades e centros de pesquisas, para melhor conhecimento da história da Bahia. Desenvolveram parcerias com empresas privadas, como a Júnior Archievement, com foco no empreendedorismo, ensinando aos alunos a montar e gerenciar pequenos negócios, o que resultou em ex alunos proprietários de miniempresas.
O Projeto “Pensando no outro”, coordenado pela professora Rose Borges, fez trabalho voluntário em creches e abrigos. O esporte também teve destaque no colégio: foram ofertadas aulas de lutas marciais, natação e atletismo, com academias parceiras. O Colégio Militar do Exército ofereceu aulas de yoga e técnicas de pensar, relaxar e respirar, concorrendo para melhoria na disciplina dos jovens. Foi implantada uma mini -academia nas dependências da escola para estudantes, professores e funcionários.
Além de oferecer espetáculos gratuitos, artistas e bandas famosas (Acarajé com Camarão, Estaca Zero, Cheiro de Amor, Carla Cristina, Compadre Whashington, Via Circular, Pachanka e outras), eram oferecidas aulas de teatro, dança, oficinas de pintura em tela e pintura em tecido.
A Fanfarra Serravalle é parte do projeto político-pedagógico, tendo como critério de seleção boas notas e bom comportamento.
Em todas as ações, houve a participação dos estudantes portadores de necessidades especiais, tendo a escola reconhecimento nacional, com Prêmio “Orgulho Autista”.
Todas essas ações inclusivas, desenvolvidas na escola Raphael Serravalle, são um diferencial e deveriam ser praticadas por todas as escolas.
O alto índice de estudantes do Serravalle, nesses últimos anos, com acesso a universidades públicas e privadas, através do ENEM, ou de vestibulares em todo país, chamou a atenção do Conselho Britânico, que levou o diretor do colégio ao Reino Unido, para apresentação da experiência de “Pedagogia do amor”, de Paulo Freire. O único diretor de escola pública do país que foi convidado pela Sociedade Britânica. Também a convite do Governo Português, visitaram escolas públicas daquele país, para conhecer a Reforma Educacional e práticas que velêm dando bons resultados.
Lamentavelmente, o Professor Raimilton, Diretor Nota 10, foi o primeiro diretor exonerado pelo governador da Bahia, através de um decreto que passava a exigir dedicação exclusiva, indiferente às práticas do diretor, que passava devotadamente a manhã e a tarde na escola, mas mantinha um contrato de trabalho noturno, no município de Salvador. Inconformados, os professores e funcionários o elegeram diretamente, mas foram surpreendidos com uma interventora. Os professores e funcionários viveram dias de luto e protesto.
Ninguém apagará as ações prodigiosas do diretor Ramilton e da sua equipe de professores no Colégio Raphael Serravalle!
*Maria José Rocha Lima e mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira e dirigente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise-ABEPP.
Publicado originalmente no site: https://planaltoempauta.com.br/professor-ramilton-um-diretor-nota-10/