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Difícil não se entristecer, nem se preocupar e simplesmente “ficar bem” diante do atual cenário. Ainda que pessoalmente tenhamos supridas nossas necessidades básicas – o que, infelizmente, não é a realidade de todos os brasileiros, quando pensamos na saúde coletiva abalada; nas vidas ceifadas; nas famílias desamparadas; no desemprego e impactos da pandemia na economia, educação, segurança e bem estar da sociedade, a tendência natural é o desânimo. Contudo, se ao invés de passar o dia inteiro absorvendo estatísticas do novo coronavírus atualizadas a todo momento em tempo real, abrirmos a janela da nossa alma para escutar e refletir sobre as inspiradoras letras da Música Popular Brasileira, nuvens carregadas começam a se dissipar.

É exatamente isso que tenho feito desde o início do isolamento social imposto por necessidade pela pandemia de Covid-19, a fim de transformar minha tempestade interior em um misto de sol e chuva fraca, com direito a arco-íris no céu azul anil. Ao acordar diariamente, depois de me atualizar sobre os fatos e de tomar providências para ajudar a quem posso, na medida do possível, tenho passados meus dias em atividades diversas ao som de grandes intérpretes da nossa MPB. Enquanto músicas como “Depende de nós”, de autoria do grande Ivan Lins, fazem brotar raios de alento dentro de mim, outras composições têm o poder de acariciar minha alma em meio a esta tempestade de proporção planetária.

Muito bem acompanhada por artistas brilhantes, a exemplo de Maria Betânia, Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Jorge Ben Jor, Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Moraes, Cartola, Chico Buarque, Nara Leão, Zé Ramalho, Russo Passapusso (Baiana System), Lenine, Noel Rosa, Zeca Baleiro e tantos outros, torna-se mais fácil e, por vezes, prazeroso, atravessar este momento sombrio da história. E quando bate a saudade dos velhos tempos, despertada pelo samba “O bêbado e o equilibrista”, escrito por Aldir Banc e João Bosco e gravado pela eterna Elis Regina, tudo fica mais leve. E, por falar em saudade, quanta falta farão os nossos queridos e talentosos Aldir Brantes, Moraes Moreira e Riachão, que em meio a esta “chuvarada”, foram cantar em outras estações.

Resta-nos o sentimento de esperança, que brota no coração quando ouço Clara Nunes cantar, em “O Juízo Final” (Nelson do Cavaquinho/Élcio Soares), que “o sol há de brilhar mais uma vez, a luz há de chegar aos corações, do mal será queimada a semente, o amor será eterno novamente”. Não podemos deixar o medo, a ansiedade ou a tristeza nos dominar. Tempestades não duram para sempre. Por isso, precisamos escutar: “Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei” (Renato Russo/Flávio Venturini).

*Marinalva Nunes, servidora pública aposentada, é Presidente da Associação Classista de Educação e Esporte da Bahia (ACEB), Coordenadora jurídica da Federação dos Trabalhadores Públicos do Estado da Bahia (Fetrab), Conselheira da Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia (AFPEB) e membro da Diretoria da Confederação dos Servidores Públicos do Estado da Bahia – regional Bahia (CSPB).