Uma de nossas narrativas primordiais conta que Iemanjá viveu um período sozinha no mundo espiritual. Poderosa, Iemanjá tinha de tudo para sua vida no orum. As atividades de Iemanjá faziam com que seus dias fossem preenchidos. Olorum ainda não havia emitido as ordens para que Odudua e Oxalá criassem o mundo e os seres humanos. O mundo dos seres humanos, aiê, ainda estava nos planos do grande arquiteto Olorum, que do alto de sua sabedoria tudo observava e observa.
O mundo era composto por nove espaços habitados pelos orixás mais antigos e pelo deus supremo Olorum. Também não existiam alguns animais, as estrelas, as nuvens, parte da flora e da fauna e muitos orixás, que conhecemos hoje. Olhando a vida da mãe dos peixes, Olorum decidiu que Iemanjá precisava ter uma família. Uns dizem que Iemanjá casou-se com Oxalá, já casado com Nanã, outros afirmam que Oxalá perambulava entre os espaços do orum em atividades designadas pelo pai supremo, acompanhado de sua primeira esposa. A certeza é que Olorum já havia decidido que Iemanjá não mais poderia viver sozinha.
Para Olorum, sua filha deveria ter uma família para partilhar o alimento, as alegrias, os dias. Então, o ventre da futura mãe passou a crescer, a mostrar-se. Já ao final do primeiro mês de gestação, Iemanjá deu luz às estrelas. Todas as estrelas habitantes do céu nasceram de Iemanjá. Como as estrelas nasceram para o céu, a grande mãe continuou sozinha. O ventre do orixá feminino continuou a crescer e as nuvens surgiram para acompanhar as estrelas e garantir as chuvas responsáveis pelo equilíbrio com o sol.
Gildeci de Oliveira Leite é professor da UNEB, escritor e sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
Artigo publicado no Jornal A Tarde no dia 10 de maio de 2020
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